Capítulo FiatLux
Tabela de Dados Individuais, a matriz da pesquisa
Contexto este capítulo descreve a tabela de dados individuais como a matriz central da pesquisa quantitativa, destacando organização, padronização, segurança e importância na análise estatística.
1. Definição
A tabela de dados individuais é a matriz central da pesquisa quantitativa. Nela, cada linha corresponde a um participante, sujeito, prontuário, entrevista ou unidade de análise. Cada coluna corresponde a uma variável coletada, por exemplo, idade, sexo, pressão arterial, escore de um questionário ou desfecho clínico.
Essa tabela deve conter somente informações padronizadas, idealmente na forma de letras ou números codificados, sem textos longos, abreviações pessoais ou comentários soltos. As unidades de medida e as categorias de resposta devem estar claramente indicadas no cabeçalho de cada coluna.
A tabela de dados individuais é a origem de todos os resultados numéricos da pesquisa. É a partir dela que serão derivados todos os cálculos, tabelas, gráficos, testes estatísticos e figuras que aparecerão no relatório final, no TCC, na dissertação, na tese ou no artigo científico.
2. Importância
A tabela de dados individuais é o ponto de encontro entre o mundo real e a análise estatística. Sem uma tabela bem construída, a melhor revisão de literatura e o melhor projeto se perdem em dados confusos, incompletos ou inutilizáveis.
A importância da tabela de dados individuais pode ser resumida em alguns pontos.
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Organização, permite enxergar, em um único lugar, todos os participantes e todas as variáveis coletadas, com clareza e ordem.
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Padronização, garante que cada variável seja registrada sempre do mesmo jeito, por exemplo, um código numérico para cada categoria de resposta. Isso reduz erros na análise.
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Rastreabilidade, facilita conferir, corrigir e auditar os dados sempre que necessário, inclusive em respostas ao Comitê de Ética ou a revisores de artigos.
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Reprodutibilidade, uma tabela bem organizada permite que outro pesquisador, ou o próprio pesquisador no futuro, replique as análises e compreenda exatamente como os resultados foram obtidos.
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Segurança e integridade, a existência de cópias de segurança e controles de acesso garante que os dados não sejam perdidos nem alterados de forma não autorizada.
Em resumo, uma boa tabela de dados individuais é a base silenciosa de toda a qualidade metodológica e estatística do estudo.
3. Quem deve fazer
A construção da tabela de dados individuais é responsabilidade do pesquisador principal, em conjunto com o orientador e, quando houver, com o estatístico da equipe. Mesmo que a coleta seja feita por vários entrevistadores ou pesquisadores auxiliares, o desenho da tabela, os nomes das variáveis e a forma de codificação devem ser definidos centralmente.
Cabe ao pesquisador principal:
- definir quais variáveis estarão na tabela, de acordo com os objetivos do estudo;
- padronizar a forma de registro de cada variável;
- treinar a equipe para preencher os dados sempre do mesmo modo;
- revisar periodicamente a consistência das informações registradas.
Se houver apoio de profissionais de tecnologia ou de estatística, eles podem sugerir melhorias de estrutura, como tipos de campos, codificações e formatos de arquivo. No entanto, a responsabilidade sobre o conteúdo e a coerência com o protocolo permanece com o pesquisador.
4. Quando fazer
A tabela de dados individuais não deve ser improvisada depois que a coleta já começou. Ela deve ser planejada e estruturada com antecedência, de preferência antes da submissão do projeto ao Comitê de Ética em Pesquisa.
A sequência ideal é:
- definir a pergunta de pesquisa, a hipótese e os objetivos;
- planejar os instrumentos e o formulário de coleta, presencial ou online;
- a partir desses instrumentos, desenhar a tabela de dados individuais, com todas as variáveis necessárias;
- somente então iniciar a coleta, já sabendo exatamente em que formato os dados serão lançados.
Durante a coleta, a tabela pode ser ajustada em detalhes, desde que as mudanças não contrariem o projeto aprovado nem prejudiquem a consistência dos dados. Mudanças estruturais grandes devem ser avaliadas com muito cuidado.
5. Onde fazer
A tabela de dados individuais pode ser construída em diferentes ferramentas, desde que ofereçam segurança, organização e possibilidade de exportação para análise estatística. Alguns cenários comuns são:
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Planilhas eletrônicas, como Excel ou Google Sheets, úteis para pesquisas pequenas e médias, com número limitado de variáveis e de participantes.
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Plataformas específicas de pesquisa, como sistemas de captura eletrônica de dados, indicadas para estudos maiores ou multicêntricos.
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Bancos de dados estruturados, como arquivos no formato CSV ou bases relacionais integradas a softwares estatísticos.
Independentemente da ferramenta, algumas regras são essenciais.
- a tabela matriz deve ser guardada em ambiente seguro, com acesso restrito;
- deve existir pelo menos um backup, em local diferente, atualizado regularmente;
- o armazenamento deve respeitar as normas de proteção de dados pessoais e sensíveis, reduzindo ao mínimo a possibilidade de identificação direta dos participantes.
Quando a pesquisa contém dados identificáveis, recomenda se separar a lista de identificação da tabela analítica, usando um código único para cada participante e mantendo a chave de identificação em arquivo separado e protegido.
6. Como fazer
A construção da tabela de dados individuais exige disciplina e padronização. Alguns princípios práticos ajudam a garantir qualidade.
6.1 Estrutura básica
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Cada linha representa um participante, um identificador único deve ser criado para cada participante ou unidade de análise, por exemplo, P001, P002, P003. Esse identificador deve ser estável ao longo de todo o estudo.
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Cada coluna representa uma variável, as colunas são as características medidas, por exemplo, idade, sexo, pressão sistólica, escore de dor, presença de comorbidade, desfecho clínico.
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Cabeçalho claro e padronizado, o cabeçalho deve conter o nome da variável e, quando aplicável, a unidade de medida, por exemplo, idade_anos, PAS_mmHg, glicemia_mg_dl. Isso evita dúvidas futuras sobre o significado dos números.
6.2 Conteúdo padronizado
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Somente letras ou números codificados, a tabela deve conter apenas valores simples, preferencialmente numéricos, com codificações definidas em um dicionário de dados, por exemplo, um código para sim e um código para não, ou um código para cada categoria.
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Sem textos longos nas células, comentários extensos não devem ficar espalhados pela matriz. Quando necessário, pode haver uma coluna específica de observações padronizadas ou um documento separado de anotações.
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Evitar fórmulas complexas na matriz original, a tabela matriz deve guardar os dados brutos ou padronizados. Cálculos derivados, como médias, índices compostos ou categorias calculadas, devem ser feitos preferencialmente em cópias ou em scripts de análise, preservando o dado original.
6.3 Dicionário de dados
Além da tabela, é fundamental manter um dicionário de dados, um documento que descreve, para cada coluna:
- nome da variável;
- definição em linguagem comum;
- unidade de medida, quando houver;
- forma de codificação;
- valores possíveis e o que cada código significa.
Esse dicionário facilita o entendimento da tabela por outros membros da equipe, por revisores e pelo próprio pesquisador no futuro, quando precisar reabrir o banco de dados.
6.4 Backup e segurança
Como a tabela de dados individuais é a matriz da pesquisa, sua perda pode inviabilizar completamente o estudo. Por isso, algumas medidas são indispensáveis.
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Backup periódico, manter cópias de segurança em locais diferentes, por exemplo, um backup em nuvem e um backup em dispositivo físico criptografado.
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Controle de versões, registrar a data de atualização de cada arquivo, evitando múltiplas versões com nomes confusos.
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Controle de acesso, restringir o acesso à tabela somente à equipe autorizada, usando senhas e mecanismos de autenticação sempre que possível.
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Proteção de dados pessoais, evitar armazenar diretamente na tabela dados como nome completo ou número de documento. Utilizar códigos e manter a lista de identificação em arquivo separado, com proteção adicional.
Essas medidas auxiliam na conformidade com a legislação de proteção de dados e com as boas práticas éticas recomendadas pelos Comitês de Ética em Pesquisa.
7. Considerações finais
A tabela de dados individuais é o coração numérico da pesquisa. Ela traduz para números e códigos aquilo que foi cuidadosamente planejado em termos de pergunta de pesquisa, objetivos, instrumentos e procedimentos.
Quando bem construída, ela:
- facilita a análise estatística;
- reduz erros e inconsistências;
- comprova a qualidade metodológica do estudo;
- permite auditoria, conferência e replicação;
- protege o pesquisador e o participante.
Quando mal planejada, pode gerar retrabalho, perda de dados, dificuldades na análise e, em casos extremos, inviabilizar o uso científico da pesquisa realizada.
Investir tempo na construção correta da tabela matriz, com linhas bem definidas, colunas padronizadas, cabeçalhos com unidades de medida, dicionário de dados e rotinas de backup e segurança, não é um detalhe técnico secundário. É uma etapa estratégica do planejamento, da execução e da validação da pesquisa.